O QUE FAZER PARA MELHORAR A EDUCAÇÃO PÚBLICA

EDUCAR É UM ATO DE AMOR!

A EDUCAÇÃO É O PRINCIPAL ANTÍDOTO PARA COMBATER A DESIGUALDADE SOCIAL.
Luiz Rocha

Função da escola

O desafio das escolas comum e especial é o de tornar claro o papel de cada uma, pois uma educação para todos, não nega nenhuma delas. Se os compromissos educacionais dessas não são sobrepostos, nem substituíveis, cabe a escola especial complementar a escola comum, atuando sobre o saber particular que invariavelmente vai determinar e possibilitar a construção do saber universal.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA LOCAL ( SERRA DO RAMALHO-BA) NAS SERIES INICIAIS

A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA LOCAL NAS SERIES INICIAIS




O Ensino da História no Brasil, após sua introdução oficial nos programas escolares em 1931, passou por diferentes processos de transformação. Na segunda metade da década de 1990, o Ministério da Educação elaborou e divulgou os Parâmetros Curriculares Nacionais, documento que sugere os conteúdos a serem privilegiados nas séries iniciais do ensino fundamental. No caso específico da História, indicam a relevância de se trabalhar conteúdos relacionados à História Local. É importante lembrar que essas mudanças propostas apenas lentamente chegam às escolas dos sistemas de ensino, particularmente às redes municipais responsáveis pelas séries iniciais de escolarização. Por outro lado, dificuldades específicas são apontadas pelos professores que, em número significativo, não são licenciados. Formação, condições objetivas de trabalho e inadequação de materiais didáticos sobre a localidade têm sido apontados pelos docentes e pelos técnicos de Secretarias Municipais da Educação como problemas.

O ensino de História Local apresenta-se como um ponto de partida para a aprendizagem histórica, pela possibilidade de trabalhar com a realidade mais próxima das relações sociais que se estabelecem entre educador/educando/sociedade e o meio em que vivem e atuam. O local é o espaço primeiro de atuação do homem, por isso, o ensino da História Local precisa configurar também essa proposição de oportunizar a reflexão permanente acerca das ações dos que ali vivem como sujeitos históricos e cidadãos. Assim sendo, o ensino de História Local pode configurar-se como um espaço de construção da reflexão crítica da realidade social, considerando-se que o local e o presente são referentes para o processo de construção de identidade. Embora esse campo de conhecimento ainda não esteja suficientemente explorado pela pesquisa científica, demonstrado pela incipiente quantidade de trabalhos publicados sobre o tema, o seu estudo constitui-se em uma necessidade de aprofundamento para todos os pesquisadores interessados no ensino de História na 1ª fase da escola fundamental.

Embora o estudo do ensino da História Local e Regional venha sendo bastante discutido, existe uma dissociação entre o que é proposto e o que é desenvolvido na formação de crianças. De acordo com Fonseca (1992), as fontes e os documentos disponíveis aos professores produzidos pelas prefeituras, pelos órgãos administrativos locais, visam à transmissão das idéias do grupo conservador do poder político ou econômico, levando alunos e professores a se limitarem à preservação da memória da elite local, contribuindo para a construção de uma identidade coletiva e individual a partir desse referencial. Como diz Fonseca: Uma identidade constrói-se a partir do conhecimento, da forma como os grupos sociais de pertença viveram e se organizaram no passado, mas também da verificação da forma como se estruturam para fazer face aos problemas do presente, tendo um componente que aponta para o futuro, pelo modo como este se prepara por meio da fixação de objetivos comuns (FONSECA, 1992 ,p, 106).

Acreditar que o método de ensino através da pesquisa é, atualmente, uma das melhores formas de desenvolver no jovem estudante a capacidade de ordenar e criar conhecimento, tirando do professor o ônus de ser o “dono do saber”, fazendo com que ele se torne um orientador, que aprende e produz conhecimento junto com seus orientados. Desse modo, a criança poderá organizar suas idéias e aprender através do debate e da descoberta. A pesquisa como forma de “criar” um novo conhecimento deve se sobrepor ao péssimo hábito de nossas escolas de estimular a simples clonagem de um conhecimento já existente. O desenvolvimento dessa habilidade deve começar junto com a aprendizagem escolar, ou seja, já no primeiro ano de escolarização. Segundo Knass: (...) o processo de aprendizagem confunde-se com a iniciação à investigação, deslocando a problemática da integração ensino-pesquisa para todos os níveis de conhecimento, mesmo o mais elementar. A pesquisa é, assim entendida, o caminho privilegiado para a construção de autênticos sujeitos do conhecimento que se propõem a construir sua leitura de mundo.”

FONTES ORAIS E A HISTÓRIA LOCAL

Um trabalho com a memória na escola exige um investimento muito grande do professor, necessita de apoio da escola, dos alunos e da comunidade. A parte inicial de sensibilização dos alunos e da comunidade tem um peso significativo no sucesso de um trabalho com a memória. Percebe-se que é mais fácil conseguir o apoio de pessoas que participaram mais diretamente da construção do bairro. Quando os membros da comunidade "não se sentem participantes” da História Local recebem com muita desconfiança o pedido para colaborarem com um projeto que pretende reconstituir, a partir de suas lembranças, uma memória coletiva do local onde moram, independentemente do tempo de convivência e do engajamento. Pesa nesses casos, a suspeita de que a escola está querendo ingerir-se na individualidade dos entrevistados, pois muitas vezes, eles não têm o sentimento de pertencimento, não se sentem como alguém que tenha algo a falar, ou como alguém que possa constituir-se em uma referência para a memória do bairro. Há tantas memórias quantos grupos de pertencimento. Em cada um, o que guia as relações de referência passadas é a escolha de identificação, são as situações reais, as rivalidades de interesse e conflitos do presente. Essas situações mudam com o tempo. (1993 p.38).

A memória entendida como a presença do passado, é também uma representação seletiva do passado, um passado que nunca é aquele do indivíduo somente, mas do indivíduo inserido num contexto familiar, social, nacional (ROUSSO, 1996, 94), “podemos, portanto dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução em si" (POLLAK, 1992, p. 204). As discussões e os trabalhos contemporâneos sobre o uso da memória na história e na educação têm mostrado que ela pode dar uma significativa contribuição nestes dois campos. Os historiadores do tempo presente, que trabalham na construção de memórias contemporâneas, tentam identificar, além do mero discurso histórico, as formas múltiplas e possivelmente conflitantes de rememoração e utilização do passado (CHARTIER, 1996, p. 216).

A VALORIZAÇÃO DA FONTE ORAL

Em experiências realizadas em outros países (França, Inglaterra, EUA) e aqui no Brasil, observa-se que as crianças valorizam muito a entrevista com os adultos. É uma forma de contribuir para abrir a escola ao exterior, facilita as atividades dos alunos e, proporciona, embora com limitações, um contato com um passado próximo. Trata-se de uma proposta pedagógica que prioriza o trabalho com as fontes orais da comunidade para produzir um saber em História centrado na criança, permitindo que ela adquira gradualmente autonomia no processo de conhecimento do passado do seu meio social e local (VIDIGAL,1995). A base para um trabalho centrado na memória são as representações que a criança possui de sua família, seus vizinhos e o contato com fotografias, antigas cartas, documentos, recortes de jornais e as lembranças de pessoas da comunidade. O estudo da História Local, em "bairros novos" deve ser diferenciado de lugares onde existe uma “memória longa” (CITRON, 1994) onde várias gerações interagem, convivem e se identificam com os lugares de memória. O que não invalida uma proposta de trabalho com a memória de pessoas da comunidade que possam contribuir para levantar dados sobre a constituição do bairro e da identificação de alguns lugares de memória já definidos pelos grupos que ali residem há mais tempo.

ESTUDO DA HISTÓRIA LOCAL

Discutir sobre o uso de fontes é quase lugar comum entre os trabalhos que propõem inovações possíveis no ensino de História. Para atender as propostas dos PCNs séries iniciais (BRASIL, PCN, 1997, p. 89-95) o professor deve trabalhar com História Local, deve suscitar reflexões a partir da realidade do aluno, estudando a escola, o bairro, enfim o local onde o aluno estuda e reside. No entanto, o professor que atua na escola nem sempre consegue entender a complexidade que é o trabalho com História a partir de documentos - de que forma ele poderia promover algum saber com seus alunos utilizando, por exemplo, a fonte oral. Por outro lado, fica sempre a pergunta, num estudo mais acadêmico, da validade deste tipo de experiência no ensino de História, mas atualmente, são inúmeros os trabalhos (THOMPSON; VIDIGAL; LUC; SITTON et al e LEME et al.), que relatam iniciativas deste tipo, colocando claramente as vantagens desse trabalho desde as séries iniciais, para a construção da identidade do aluno, para que ele possa a partir dessa construção estabelecer relações com o passado e com outras realidades.

A dificuldade maior que se apresenta para um trabalho mais aprofundado em História na escola é, sem dúvida, a formação do professor. O professor das séries iniciais tem ainda uma formação muito limitada nas áreas do conhecimento que ele deveria trabalhar na escola. Observa-se ainda, uma tendência em privilegiar determinadas áreas do conhecimento em que faz aparecer a noção. O que secreta, veste, estabelece, constrói, decreta, mantém pelo artifício e pela vontade de uma coletividade fundamentalmente envolvida em sua transformação e sua renovação. Valorizando, por natureza, mais o novo do que o antigo, mais o jovem do que o velho, mais o futuro do que o passado. (NORA, 1997, 28-29) em detrimento de outras, desta forma, a História não é tida como uma disciplina que mereça muito esforço, muito investimento. Por outro lado, qualquer trabalho que envolva pesquisa partindo de um projeto, exige uma dedicação maior, ainda que a proposta possa ser desenvolvida interdisciplinarmente. Investir em uma área que não é considerada nobre seria romper com a ênfase disciplinar pela qual o professor foi formado, e ele fica incomodado em dispensar um tempo maior para o estudo com o passado.

Para romper com um sistema de saberes que só se “aguenta’’ pela defesa de territórios profissionais, segundo Citron, é necessário lutar por uma educação centrada no sujeito, principalmente no contexto de desestruturação social e cultural predominante no mundo hoje". Converter o sistema escolar que, pelo seu quadro institucional, continua a ser um sistema estatal de “instrução”, num verdadeiro serviço de educação pública, consiste em primeiro lugar, em repor a educação sobre seus próprios pés fazendo da criança, do jovem, do adulto, o centro, o fim, a razão de ser da ação pedagógica, em lugar das disciplinas idolatradas. Priorizar o sujeito é dar-lhe os meios para construir a sua pessoa, para compreender o mundo em que vive, para se descobrir passo a passo na imagem que os outros lhe dão e no seu próprio narcisismo, para aprender a comunicar, criar, lutar, construir". (1990, p.117). Para trabalhar com uma educação centrada no sujeito, Citron alerta que é preciso descompartimentar a formação de professores, não é de maneira nenhuma renunciar ao saber, mas sim remodelar, reconstruir, isso requer um alargamento na concepção do papel educativo e uma nova forma de conceber o espaço escolar.

OS LUGARES DE MEMÓRIA

Discutir a necessidade de preservação patrimonial pode levar os alunos a uma consciência de que os lugares da memória podem ser definidos pela comunidade como um todo, e que não é a perspectiva temporal que vai definir o que deve ser preservado, não é simplesmente identificar os lugares mais antigos para considerá-los lugares de memória. Essa memória pode ser construída pela seleção de “alguns lugares da memória” como, por exemplo, associações e grupos culturais, um monumento natural, artesanato, fatos, eventos, lendas, lugar público de destaque, monumento dentre outros. “Os lugares da memória são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde subsiste uma consciência comemorativa numa história que a chama, porque ela a ignora. Uma forma de entrar em contato com o passado é aprender que as ruas ou campos em torno de uma casa ou escola eram diferentes, antes que determinados grupos tivessem ali chegado; outra forma bem diferente é ter esse conhecimento por meio de lembranças do passado, vivas ainda na memória dos mais velhos do lugar, da afetividade deles por aqueles campos, dos vizinhos e casas em determinada rua, do trabalho em determinada loja” (THOMPSON, 1992, p. 30).

O ensino de História teve sua trajetória pautada na memorização e repetição oral dos textos escritos, comprometido com o civismo e uma moral religiosa, com a finalidade de perpetuar a história dos “heróis” da classe dominante, deixando no anonimato outros sujeitos que construíram o cotidiano das relações socioculturais, econômicas e políticas. Mais recentemente, com outros olhares, novos caminhos têm sido trilhados no sentido de tornar a História uma ciência e uma disciplina escolar próxima das realidades nunca estudadas, privilegiando o lócus de vivência do aluno, com o eixo temático História Local, contribuindo para uma aproximação prazerosa do aluno com este campo do conhecimento. Apesar dessa nova concepção metodológica da História, o ensino dessa disciplina nas primeiras séries do Ensino Fundamental tem revelado os resquícios da cultura historiográfica ainda centrada num paradigma conservador, observado através de pesquisas de que os professores que atuam nessa modalidade de ensino trabalham os conteúdos de História de forma fragmentada, baseada numa concepção de História cronológica. Por conta dessa inegável realidade, a história brasileira, muitas vezes, contou a história vista de cima, oficializada, valorizando grandes feitos praticados pelos heróis nacionais reconhecidos pela classe dominante.





Nenhum comentário:

Postar um comentário